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segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Temos tanta pressa

Mas para onde queremos ir? Há quanto tempo não ouvimos os nossos apelos interiores? Aquela voz que já não escutamos porque andamos sempre a correr para lado algum, mesmo quanto estamos parados no sofá, a branquear a nossa mente olhando para algum programa televisivo deprimente? À espera do amanhã, do depois de amanhã, à espera da vida ideal, do fim-de-semana seguinte, das sextas- feiras à tarde, da estabilidade financeira, da igualdade material. Do dia em que teremos a nossa casa e o nosso cão, as nossas férias anuais e o nosso almoço de Domingo no restaurante? Há quanto tempo não se senta num jardim, sozinho, a ver as folhas cair? A descascar uma romã? A adivinhar para onde vai aquele casal de ar feliz? A ouvir o sussurro da água corrente. Quando foi a última vez que esteve despreocupado? Que não teve medo? Que chorou com uma música? Que falou com uma planta? Que apreciou com vagar a sua cama feita de lavado, as cores da salada, o cheiro de um prato de infância. Para onde quer ir? Porque não fica aqui, apenas neste dia presente, neste minuto preciso em que lê estas palavras? Vai para algum lado? Porque não se aquieta em vez de se inquietar? Porque não faz, durante este dia, coisas que o façam sentir-se bem? Falar com um amigo ausente, resolver um problema pendente, correr junto da Natureza até ensopar o seu fato de treino com o stress dos dias? Porque não chora alto? Porque não diz o que lhe vai na alma? Porque não abre as janelas da sua casa? Há quanto tempo não passa um dia sem se lembrar de dinheiro, de contas, de afazeres que adia? Por mais que nos organizemos, na rectidão obsessiva da nossa agenda e das nossas rotinas, nada na nossa cabeça anda organizado. Há excesso de informação, de estímulos, de coisas. De objectivos que teimamos em perseguir sem que saibamos se eles nos trarão serenidade. Há mágoas por resolver, lixo emocional.  Quando nos obrigaremos a parar? A cultivar as nossas amizades, em espírito de entrega, sem querer a admiração do mundo inteiro? Diga-nos sinceramente: há quanto tempo não respira? Há quanto tempo não perdoa? Desde quando passou a sentir esse nó na garganta, esse peso no peito, essas intermináveis dores de cabeça? Para onde quer ir, realmente, a não ser ao fundo de si mesmo?

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