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terça-feira, 12 de abril de 2011

Cyrano no jornal

Projecto Cyrano dedica-se à edição personalizada 

Histórias feitas à medida dos sonhos de cada um


Por
Luísa Teresa Ribeiro
Já imaginou um livro em que os seus filhos são os protagonistas? Ou
uma biografia que dê a conhecer a vida do seu pai? Ou um jornal em
que a manchete é o seu casamento? Foi para satisfazer desejos como
estes que surgiu o Projecto Cyrano, que se propõe fazer edições personalizadas,
onde se incluem trabalhos tão diversos como contos, biografias,
reportagens, cartas ou a passagem de blogues para livros. Criado
pela ex-jornalista Denisa Sousa, o projecto autointitula-
se um «banco de memórias pioneiro que eternizará a sua história
» e pretender criar produtos únicos à medida dos sonhos de cada um. 




Com o marido em missão no Afeganistão, Sílvia Melo começou a procurar livros infantis que falassem sobre a ausência, para que filhos pequeninos, a Inês e o João, pudessem lidar melhor com a distância do pai, mas não encontrou as publicações que pretendia.Como também sentia «a vontade e a necessidade de oferecer» um presente especial ao marido, João Roque, que «fosse fácil de enviar por correio para tão longe», quando descobriu o Projecto Cyrano – Edições Personalizadas através do Facebook teve a ideia de um livro escrito especialmente para a sua família. «Quando tive conhecimento do projecto,achei que era o ideal. O presente para o pai e a história para os meninos», revela. No contacto com Denisa Sousa, a mentora do Projecto Cyrano, Sílvia Melo pediu «um conto infantil que falasse sobre a ausência» e deixou o resto à imaginação da antiga jornalista. O resultado foi «uma história de encantar, meio verdade, meio a fingir, cheia de amor a amizade», como está escrito no livro “Mil beijinhos vindos de longe”, que tem uma edição de três exemplares. 


A obra conta a história da Picolina e do Jogador – as representações de Inês e João – que se tornam amigos do Rui, um menino cujos pais são médicos e estão a trabalhar longe. No livro, os meninos cumprem o ritual de fazer uma marca numa árvore para assinalar a contagem decrescente para a chegada do pai. O conto está recheado de pormenores da vida pessoal da família de Sílvia Melo, das suas rotinas e da escola dos meninos, para além de fotografias dos protagonistas. Sílvia Melo não conseguiu esperar pelo Natal para entregar o presente à família: «Os meus filhos viram o livro no dia em que ele chegou. Eu contei-lhes a história à noite, antes de dormir. A Inês ficou encantada com as fotografias, com a ilustração. O João [mais velho] ficou muito atento à história e mais para o final começou a chorar. O João adorou o livro, a história, tudo. Dormiu com o livro debaixo da almofada e quis levá-lo para a escola». Esta mãe diz que o facto de o pequeno João ter chorado «foi muito bom, porque até aqui ele ainda não tinha conseguido demonstrar as emoções relativamente à ausência do pai». «Chorou durante algum tempo e a partir daí ficou melhor, mais alegre, parecia mais leve», conta. Sílvia Melo considera que o livro foi «muito importante» para a família: «Além de ajudar os meus filhos e a mim também,porque os vi felizes, também ajudou muito o pai. Ele adorou o presente e disse que foi o melhor que recebeu na vida. Acho que só isto já diz muito do significado deste livro para nós». A mentora da história refere que o objectivo era, precisamente, «abrir a porta das emoções e deixar que as crianças extravasassem o que estavam a sentir». Denisa Sousa recua até à infância para se recordar que «os livros eram uma janela para a fantasia» e fala da alegria que as crianças poderão sentir quando se virem retratadas em livro. «Acho que não deve haver criança nenhuma no mundo que não goste de ter uma história em que ela é a protagonista», afirma. 

Há anos que Denisa Sousa pensou que «seria giro se cada criança tivesse uma história à sua medida», mas o projecto acabou por ser adiado até ao dia em que deixou o jornalismo. Depois de um ano a «fazer coisas avulsas» que não a preenchiam, a ex-jornalista decidiu recuperar a ideia de fazer contos personalizados. «Vou escrever pelas pessoas. Acho que não há ninguém que não goste de se ver escrito e sobretudo que não goste de ver a sua parte mais bonita escrita», diz. À escrita de histórias para a infância, ilustradas pela ilustradora Rita Correia,  juntou outros serviços, como cartas, jornais, biografias, edição de livros, passagem de blogues para livros, revisões, trabalhos multimédia ou até transcrição de gravações. Entre os trabalhos em carteira tem, aliás, um conto para um avô de 80 anos, a biografia de um conselheiro de Estado e a possibilidade de fazer livros para empresas. «O Cyrano faz tudo o que as pessoas quiserem», afirma a mentora do projecto. 

Quando o projecto estabilizar, Denisa Sousa gostaria de escrever gratuitamente histórias para instituições, que arcariam com as despesas de produção dos livros, mas ficariam com o dinheiro que conseguissem arrecadar com a venda das publicações. «Uma senhora disse-me que o meu trabalho é ser historiadora dos portugueses modestos. É, de facto, um bocadinho isso, na medida em que este trabalho permite a democratização da publicação. Uma pessoa pode não ser uma personalidade e, no entanto, ter um percurso brilhante e uma vida marcante que mereça ser escrita», refere. Denisa Sousa admite que ficou surpreendida porque «há muita gente que quer ver a sua história escrita e não sabe como. Ou quer que alguém reveja o livro que escreveu e o imprima e não sabe muito bem como». Era, justamente, este o caso de Mina Viana, que há quatro anos escreveu «um testemunho» que fala da sua relação e experiência com a perturbação do espectro do autismo, nomeadamente a Síndrome de Asperger. A autora não lhe chama um livro porque acha que «seria uma ofensa para os profissionais da escrita». Com um filho com aquela patologia, o Bruno, Mina Viana começou por «guardar em papel as imagens de uma vida, como quem organiza um álbum de fotografias». O objectivo inicial era apenas «um desabafo interior, um testemunho pessoal», para que as memórias ficassem guardadas. «Quando surgiu um grupo associativo, algo com que tanto sonhara, achei que deveria dividir com os outros umtestemunho que, apesar de ser único, talvez pudesse contribuir para desmistificar, dar a conhecer sem dramatismos, mas também sem falsas ilusões, esta síndrome que não têm cura, onde amor é a terapia principal e em que com muita perseverança, conseguimos algumas vitórias», revela. Entregou o seu testemunho para que o utilizassem e divulgassem, ficando as receitas para as actividades da instituição, mas mesmo assim a publicação não foi possível. Até que Mina Viana descobriu o Projecto Cyrano através do Facebook e do blogue. Já conhecia «a forma de escrever da autora do projecto» e sabia que lhe podia confiar o «tesouro». 

O Projecto Cyrano ajudou-a «a transformar umas simples folhas de papel, carregadas de sentimentos, em algo mais palpável, que pudesse guardar e também partilhar com os entes mais queridos e alguns amigos, que navegam nas mesmas águas». E assim surgiu o livro “O nosso Tesouro escondido– Amor sentido”. Mina Viana gostaria de ter «cumprido o primeiro objectivo de abranger um número maior de pessoas», mas está «muito feliz com o resultado final». «Tenho tido um excelente retorno da família e amigos a quem já ofereci, que ficaram a entender melhor determinados comportamentos que antes não percebiam», refere. A divulgação da obras não tem sido feita com intuito comercial, mas através do Facebook e blogue Aspie’s Blog. Alguns livros são disponibilizados a preço de custo para «amigos que percorrem esta mesma estrada». «Foi com enorme prazer e muito à-vontade que entreguei este testemunho nas mãos de uma pessoa sensível e que conseguiu ler e registar o que estava no meu coração sem alterar a força motriz do amor e nem o valor das minhas palavras. Recomendo, pois todos temos uma história guardada na memória que se pode perder», afirma.

*Diário do Minho

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