(...) Nos anos cálidos de Pinhel, cidade desde 1770, andavam miúdos e graúdos a crescer, rodeados pela exuberância verde da Serra da Marofa, enquanto o rio Côa e o Massueime cumpriam o seu destino, sem perder de vista o serpentear manso das ribeiras das Cabras e da Pêga, com os quais, de uma maneira ou de outra, acabaria por se fundir. Nos lençóis de água, na chuva, no suor da terra. Os bosques e os pinhais, acotovelavam áreas de amplos horizontes, enquanto debaixo do seu olho de mãe- natureza os meninos se faziam homens e mulheres, numa pobreza feliz Poucos fintariam a interioridade, mas muitos o fizeram. Pinhel é uma âncora, até hoje. Muitos dos irmãos já não a visitam, mas tem lá a alma e os registos impalpáveis da sua história pessoal. Todos têm casa naquela cidade. Maria ficou com a casa dos pais e recuperou-a. Foi uma herança pesada. Por lá ficaram lágrimas e descomposturas, traquinices e dores. "A minha casa, casa nossa, casa minha". A casa que será sempre um museu de afectos.
Enquanto o pai trabalhava de sol a sol, massacrado pelo seu reumatismo articular, aguentando os extremos do calor e do frio, como só a Beira consegue providenciar, os filhos aprendiam a amar a terra, sobretudo os homens, que continuam a encontrar nela um refúgio, a enxertar e a podar, a regar ou a cultivar qualquer coisa. João e José encontram-se muitas vezes nestas condições, décadas depois. E cumprem um ritual antigo de preparar as videiras ou aliviar as árvores e as plantas, para que possam crescer renascendo. Enquanto isso, conversam. São irmãos em presença. Podam a irmandade para que continue forte (...).
*Biografia em curso. Gostávamos de lhe mostrar mais, mas não podemos. Estamos sempre a dizer que é uma honra e a agradecer pelo facto de nos confiarem percursos tão bonitos. Porque é a mais tranquila das verdades.
**Os nomes foram alterados.
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