O nosso email projectcyrano@gmail.com / A marca Projecto Cyrano está registada no INPI desde Dezembro de 2010.

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Peça

um desejo. Mas peça muitos objectivos, pois estes últimos são mais fáceis de concretizar. Para qualquer coisa, até mesmo um desabafo amigo, o Projecto Cyrano estará aqui. Para registar a sua história ou simplesmente para a ouvir. Ninguém está esquecido. Sabemos das pessoas que nos pediram ajuda e não as abandonaremos. Sem falsas bondades, sem objectivos comerciais. É esta a lógica desta empresa e sempre será, mesmo que isso faça atiçar os desconfiados ou activar os que não conhecem o significado do conceito de estar em sociedade. Lamentamos, não estamos aqui para evitar as polémicas do costume, apenas para as ignorar, com os olhos postos naquilo em que ACREDITAMOS.


Aqui estamos na rádio, sem falsidades ou artifícios: entrevista.

*A entrevista connosco, a dez minutos do fim.

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Estás aí?

A vida, nas suas tragédias e perplexidades, tem destas bandas sonoras. É fácil imaginarmos o nosso filme a passar-nos à frente dos olhos, a provar-nos que estar aqui é muito mais do que vários instantes somados. Somos uma longa metragem ininterrupta e rápida, insana e brutal, cheia de momentos sublimes, assustadores, mágicos, intensos, desvairados. Como uma chapada seguida do abraço de paz. A ira antes da reconciliação. A morte depois da vida. A vida depois da morte. Aquele preciso frame em que tombamos de conhecimento, deixando na raiz da árvore um pouco de nós.

terça-feira, 14 de dezembro de 2010

E de romances, gosta?

(...)"Sofia levantou-se e correu para casa. Tinha desistido das suas intenções. Não conseguia parar de tremer e a vela que levava para alumiar o caminho, tinha-se apagado. Pelo ar ecoavam uivos dos lobos da serra, miados de gato e o arrepiar das gotas de orvalho que se desprendiam dos beirais, caindo nas placas de zinco. Para onde olhasse, só via sombras. Por momentos, julgou ouvir um tilintar metálico. Parou, com o coração a rufar como um tambor e os ouvidos magoados do silêncio. Correu o mais veloz que pôde, entrou em casa pela porta da frente, que dava para o recinto da feira, descampado e solitário, virado para o campo agora sem vegetação, subiu as escadas a galope e entrou no quarto. Não acendeu a luz, atirou-se para a cama e aconchegou-se no quente das irmãs. Amélia murmurou qualquer coisa e virou-se. Matilde não estava lá. Enervada até ao limite do enjoo, voltou a levantar-se e procurou-a pela casa. Viu-a de costas, no terraço. Parecia uma aparição, com a camisa de noite branca a esvoaçar e um emaranhado de cabelos ao vento. Ficou, por momentos, a contemplá-la, sem saber o que fazer. Como uma luz pousada no nada, a rapariga parecia murmurar, bruxulear,  tornar-se mancha branca intocável, agitar-se, sem, contudo, tirar, uma única vez os pés da madeira comida pelos bichos" (...). 


A nós, viram-nos o coração do avesso. 

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Feliz é uma palavra real

Os Meus Pensamentos são Todos Sensações  

Sou um guardador de rebanhos.
O rebanho é os meus pensamentos
E os meus pensamentos são todos sensações.
Penso com os olhos e com os ouvidos
E com as mãos e os pés
E com o nariz e a boca.
Pensar uma flor é vê-la e cheirá-la
E comer um fruto é saber-lhe o sentido.
Por isso quando num dia de calor
Me sinto triste de gozá-lo tanto.
E me deito ao comprido na erva,
E fecho os olhos quentes,
Sinto todo o meu corpo deitado na realidade,
Sei a verdade e sou feliz.

Alberto Caeiro, in "O Guardador de Rebanhos - Poema IX"
Heterónimo de Fernando Pessoa

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Equações

Na vida, vamos somando desapontamentos e alegrias. A equação para determinar o equilíbrio não é linear. É muito mais do que contabilizar se foram mais as pessoas que nos desiludiram ou se as que nos surpreenderam. Estas contas fazem-se tentando perceber o que somamos à nossa vida quando alguém nos faz mal e se aquilo que subtraímos valia realmente a pena. Portanto, quando alguém lhe mostra uma faceta que enegrece tudo o resto, não vale a pena lamentar-se. Vire a geometria toda para o lado de onde entra o sol.

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Podia ser um poema sobre o Facebook

A Verdade (Carlos Drummond de Andrade)

A porta da verdade estava aberta,
Mas só deixava passar
Meia pessoa de cada vez.
Assim não era possível atingir toda a verdade,
Porque a meia pessoa que entrava
Só trazia o perfil de meia verdade,
E a sua segunda metade
Voltava igualmente com meios perfis
E os meios perfis não coincidiam verdade...
Arrebentaram a porta.
Derrubaram a porta,
Chegaram ao lugar luminoso
Onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
Diferentes uma da outra.
Chegou-se a discutir qual
a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela
E carecia optar.
Cada um optou conforme
Seu capricho,
sua ilusão,
sua miopia.


*Podia, mas não é.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Mentira

 
Ilustração de Rafael Anderson




E se por um dia tivéssemos de dizer todas as verdades? O que resistiria? Se calhar, pouca coisa. Pouca, mas incomparavelmente sólida.

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

É uma árvore de Natal

não é? E das mais lindas!

Protecção

Infância, colo, lençóis de flanela, a voz da mãe, livros de aventura, banda desenhada, panelas ao lume, os nossos pratos preferidos, lareira, amor. O mundo era tão mundo nessa altura, não era?

sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

Outros projectos


(...)"O telefone tocou. Pareceu-lhe ter tocado. Palpou-o entre a névoa em cima do sofá cheio de lixo, aquele sofá que estava sempre limpo imaculado e agora desaparecia debaixo de baba humana e nódoas de bebida. Não atendeu o telefone, o número era-lhe vagamente familiar, terminava em 65 como o que, desde há uns tempos, lhe ligava insistentemente todos os dias, a várias horas. Despertou às 6h00 e ficou imóvel a olhar o tecto, à espera do preciso segundo em que a memória lhe reavivasse a angústia. O gelo que se pousaria no peito, como um peso de toneladas, era a única coisa que os seus sentidos lhe permitiam para se assegurar que ainda estava vivo. Estaria? Nas poucas horas em que lhe era possível apagar a mente, em sonhos realistas em que se julgava ainda como antes, conseguia um pouco de paz ilusória, tão breve que duraria apenas o suficiente até as frinchas da persiana deixarem entrar os primeiros sinais de luz. Tinha a boca seca como papel de celofane, não conseguia discernir que parte do corpo lhe doía, nem que membro havia de mover primeiro antes de chegar a torrente de lágrimas que o afogava vivo em cima dos lençóis sujos de outras lágrimas (...).

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Porque os outros se vendem e tu não

Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

                      Sophia de Mello Breyner Andresen