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quarta-feira, 9 de março de 2011

Regionalismos

Palavras, palavronas, palavrões. Todas contam? Todas são? Gosta-se? Desgosta-se? Existem. Ponto final.

Mais uma caminhada pela aldeia. Três quilómetros por quelhos, trilhos, atalhos. Os cães ladram. As ovelhas ainda pastam e há três muito branquinhas sentadas no chão. São bebés. Bolinhas de lã muito branca. Destacam-se no meio das grandes, algumas castanhas de focinho muito escuro. Olham-me sem curiosidade e depois fogem em bando. Nem sabem porque fogem. Talvez porque as minhas vestes são de cor imprópria para ovelhas. Cor- de-rosa. Só nos livros. Nos sonhos. Na vida delas, há uma intrusa, diferente. Há que fugir ou investir nela de chifres em riste. Ou orelhas. Porque sim.  Mas elas debandam. Fogem e eu penso que os bandos são assim. Não sabem porque fogem, sequer. Vêem a primeira ovelha a fugir e imitam-na. Nem que a primeira se atire de um penhasco.
Um homem agarrado a uma enxada, está parado, quase estátua, a ver-me passar. É magro, velho, pele curtida, farto bigode branco. Usa uma bóina suja e cinzenta. O pullover tem losangos em relevo. Não reparo nas mãos, mas devem ser mãos de trabalho. Preparo-me para lhe dar os bons dias. Não esboço sorrisos porque a boa educação dispensa sorrisos. Um cão ladra com voz que evidencia um cão pouco macho, mais bibelô. Cão de trazer debaixo da axila. E ele ladra com o seu ladrar fininho. O homem não se mexe, desentorpece a língua e deixa sair rouca e lentamente, olhando de esguelha o seu companheiro de quatro patas: "Vê lá se queres que te foda os cornos".


Imagem tirada da Net


Estamos em casa. Aqui não há palavras de baixo calão. Há palavras. Não necessariamente rudes, obscenas. Às vezes só palavras. Palavrões, vá.

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