Mais uma caminhada pela aldeia. Três quilómetros por quelhos, trilhos, atalhos. Os cães ladram. As ovelhas ainda pastam e há três muito branquinhas sentadas no chão. São bebés. Bolinhas de lã muito branca. Destacam-se no meio das grandes, algumas castanhas de focinho muito escuro. Olham-me sem curiosidade e depois fogem em bando. Nem sabem porque fogem. Talvez porque as minhas vestes são de cor imprópria para ovelhas. Cor- de-rosa. Só nos livros. Nos sonhos. Na vida delas, há uma intrusa, diferente. Há que fugir ou investir nela de chifres em riste. Ou orelhas. Porque sim. Mas elas debandam. Fogem e eu penso que os bandos são assim. Não sabem porque fogem, sequer. Vêem a primeira ovelha a fugir e imitam-na. Nem que a primeira se atire de um penhasco.
Um homem agarrado a uma enxada, está parado, quase estátua, a ver-me passar. É magro, velho, pele curtida, farto bigode branco. Usa uma bóina suja e cinzenta. O pullover tem losangos em relevo. Não reparo nas mãos, mas devem ser mãos de trabalho. Preparo-me para lhe dar os bons dias. Não esboço sorrisos porque a boa educação dispensa sorrisos. Um cão ladra com voz que evidencia um cão pouco macho, mais bibelô. Cão de trazer debaixo da axila. E ele ladra com o seu ladrar fininho. O homem não se mexe, desentorpece a língua e deixa sair rouca e lentamente, olhando de esguelha o seu companheiro de quatro patas: "Vê lá se queres que te foda os cornos".
Imagem tirada da Net |
Estamos em casa. Aqui não há palavras de baixo calão. Há palavras. Não necessariamente rudes, obscenas. Às vezes só palavras. Palavrões, vá.
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