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segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Olhe



para ali. O que vê? Uma menina a olhar o mar. Sozinha? Solitária? Triste? Olhe para ali. Para ali não, para lá mais além. O que vê? A linha do horizonte? As nuvens derramadas, exaustas sobre o mar? Os ombros de ambos tocando-se? Algum deles chora? Algum deles se redime do seu ar trágico abraçando a menina ali abandonada? O que vê, afinal? O cheiro da areia molhada? O cheiro não se vê. Vê, sim. Tudo o que se sente, vê-se. Todos os sentidos vêem. Sendo assim, o que vê, aqui, ali, além, desde o princípio até à fina e sombria linha do horizonte? Vê que no meio há um mar inteiro, espreguiçando-se, por vezes rosnando, trazendo memórias espumosas de outros olhares e outros Verões. Se a menina rir, o que lhe devolverá o mar? Saudades? Será que ela chora ou não? O que vê ali? Vê-se a si ou à menina? Sente tristeza ou alegria? Vontade de fugir ou abraçar? O que se vê ali é o seu reflexo. O reflexo de uma criança que indaga sobre o seu futuro, enquanto só a sensação dos seus pés na areia fria é real. O que vê ali além, insisto? Nada, além de um barco. Nada, além de uma viagem até dentro de nós mesmos. O que vemos é o que somos. O que sentimos é o que somos. Ninguém jamais sentirá esta imagem de forma igual.

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