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sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Diversificação de estilos

Toda a gente pensa que escrever (bem) é fácil. Que escrever um livro é apenas fazer o relato meloso de uma qualquer luta interior, de preferência usando trezentas vezes a palavra beijo, sonho, lábios e nuvens, entre tantas outras do mesmo género, só porque é romântico e soa bem. Ora bem, escrever bem não é isto:

Pousaste os olhos sobre o meu corpo de ninfa
Envolto em sonhos de algodão
Os teus beijos como nuvens
Em mil abraços de perdão.


Não, escrever bem não é nada disto. Nem disto:

Soubesses tu as saudades do teu amor, a falta que me fazes, o teu corpo desenhado nos lençóis. Quero o sabor dos teus beijos, que não me arranques dos teus sonhos. Sinto falta do teu peito e do aroma do teu banho. Tu és em mim. Meu Adónis fugido. Deus do Olimpo que me renegas. Tu és o meu sonho sonhado, a brisa da manhã, o céu onde me deito e acordo, envolta em ti.

Ora bem, não sei se ainda aí está, se se vomitou ou simplesmente ferrou o galho. Podíamos prosseguir indefinidamente até alguém tentar o suicídio, mas preferimos mostrar-lhe coisas boas. Olhe, como este texto da Dulce Lopes. Um conto que tanto pode ser para adulto como para criança. Um humor refinado, numa escrita surpreendente. A Dulce pode também escrever para si, se quiser arriscar um conto mirabolante, divertido, enternecedor, ousado.

Rezavam outras fábulas, intemporais, de animais internacionais e inter-racionais, que os príncipes procurariam as suas amadas montados em belíssimos cavalos e as resgatariam das suas vidas difíceis. E seriam felizes para sempre, etc.
Menos a parte dos muitos filhos, que, sinceramente, muitos muitos, nunca achei grande ideia.
Mas nesta história que agora vos conto, havia alguns problemas logísticos: o reino era pequeno e a amada vivia muiiiiito longe. No reino não havia cavalos. O que era estranho para um reino, mas aquele reino era estranho. Não sendo isso obstáculo que demovesse o príncipe, porque o amor dos príncipes alimenta-se a si próprio, mas desejando ao menos uma companhia para o caminho, Sua Real Alteza procurou quem o acompanhasse a resgatar a amada.
- Eu vou contigo - disse o caracol.
O príncipe torceu o seu magestático nariz, mas caramba, era um príncipe, não podia ser indelicado:
- Virás então comigo. - assentiu.
Muitos anos andaram pelos caminhos, muitos anos, muitos anos, muitos anos... Tantas vezes o príncipe esperou pelo caracol que um dia morreu de impaciência e daquilo que a autópsia revelou ser uma overdose de delicadeza...

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