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quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Uma ponte para a liberdade

A escolha é sua
Na vida, há poucos problemas que não conseguimos solucionar. Quase só aqueles que tentamos ignorar, julgando que se volatilizam e se somem sozinhos, como se nunca tivessem existido. Mas eles estão ali, pacientes, à nossa espera. Apessoam-se, crescem, engolem energia nas fraquezas e infiltram-se nas  fragilidades, transformando pequenas feridas em fracturas expostas. Por preguiça, por inércia, por orgulho, vamos somando pesos desnecessários à nossa caminhada, transformando pequenos seixos  de beira- rio em rochas porosas, gigantes, escarpadas, prontas a ruírem a qualquer momento sobre nós, enquanto julgamos ter-nos livrado, à força da nossa indiferença, de tudo aquilo que nos dói. E quando se dá a ruína, aquilo que eram  inicialmente só pequenos desconfortos, passam a ser doenças. Doenças cuja cura representa um percurso ainda mais doloroso, uma ida ao fundo de nós mesmos, o resgate de todas as dores somadas. Dores que passam a monstros.  Seres com vida própria que nos privam do bem- estar, que nos enchem a cabeça de gelo e nos transformam o nó do esterno num icebergue à deriva, para cima e para baixo, da garganta ao peito, num vai- vem constante e terrífico. Não tenhamos ilusões. Estes problemas- penhasco roubam as alegrias, relativizam as conquistas e sugam-nos a vitalidade, pouco a pouco, com uma voracidade parasitária e paciente. Até que damos por nós sem noção do tempo. A perder o ritmo. A não conseguir ouvir a areia que se escoa lentamente na ampulheta. A ser mais máquina, menos gente. A ligar o piloto- automático em vez de sorrir. A cegar para as coisas boas. 
É mais fácil começar a mudar, pedrinha a pedrinha, toda a paisagem. Por mais minúscula.Escrever aquela carta ao familiar de quem já desistiu. Tentar perceber o que está por trás do mau- humor constante do seu companheiro de vida. Saber que papel ocupar na sua família alargada. Desatar mais nós, em vez de os cerrar. Não ceder à crítica fácil. Falar. Desabafar. Limpar. Arrumar. Perdoar. Perdoar, muitas vezes. Perdoar mais uma e outra vez  A sogra, o sogro, o tio, o colega de trabalho. Entender. Tolerar. Meter o orgulho no lixo, mas guardar a honra. Relativizar aquela má palavra, aquele desaforo ou aquilo que tomamos como um desrespeito ou uma desconsideração. Porque há sempre qualquer coisa por dizer na origem destas reacções. Coisas de gente. Dê a mão a quem quer bem ou a quem não pode evitar porque faz parte da sua vida. E desista, de uma vez por todas, de quem e daquilo que lhe faz mal. Não arraste pesos- mortos, pois o seu corpo, um dia, acusará o desgaste. Água mole. Erosão desnecessária Use a palavra para se libertar. E medite com vagar sobre tudo aquilo que leu. Com muito vagar. A palavra é uma ponte para a liberdade, sabia? 

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