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terça-feira, 14 de dezembro de 2010

E de romances, gosta?

(...)"Sofia levantou-se e correu para casa. Tinha desistido das suas intenções. Não conseguia parar de tremer e a vela que levava para alumiar o caminho, tinha-se apagado. Pelo ar ecoavam uivos dos lobos da serra, miados de gato e o arrepiar das gotas de orvalho que se desprendiam dos beirais, caindo nas placas de zinco. Para onde olhasse, só via sombras. Por momentos, julgou ouvir um tilintar metálico. Parou, com o coração a rufar como um tambor e os ouvidos magoados do silêncio. Correu o mais veloz que pôde, entrou em casa pela porta da frente, que dava para o recinto da feira, descampado e solitário, virado para o campo agora sem vegetação, subiu as escadas a galope e entrou no quarto. Não acendeu a luz, atirou-se para a cama e aconchegou-se no quente das irmãs. Amélia murmurou qualquer coisa e virou-se. Matilde não estava lá. Enervada até ao limite do enjoo, voltou a levantar-se e procurou-a pela casa. Viu-a de costas, no terraço. Parecia uma aparição, com a camisa de noite branca a esvoaçar e um emaranhado de cabelos ao vento. Ficou, por momentos, a contemplá-la, sem saber o que fazer. Como uma luz pousada no nada, a rapariga parecia murmurar, bruxulear,  tornar-se mancha branca intocável, agitar-se, sem, contudo, tirar, uma única vez os pés da madeira comida pelos bichos" (...). 


A nós, viram-nos o coração do avesso. 

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