"Ouvi tudo o que havia a ouvir, com uma incontrolável bola de neve a subir-me até à garganta. Um simples som causou uma avalanche e o frio trepou por mim acima, desafiando a gravidade. Tinha de fazer isto e aquilo. Tratamentos. Probabilidades, exames concretos. Mas como é que isto aconteceu? Se você tem a minha mamografia recente na mão, sem acusar nada? A minha cabeça rodopiava, deixei de sentir-me inteira, mas fragmentada em músculo, pele, cabelo, fluidos. Percebo que o medo instintivo da morte é o que move a sobrevivência. Ninguém quer morrer. Muito menos eu, que tinha conquistado, de há alguns àquela parte, o meu lugar na minha própria vida, depois de muito tempo em experiências. Julgo que só a idade nos traz isso, essa sensação madura de nos termos pacificado com as nossas opções do passado e de aproveitarmos o presente com a mão ao peito em jeito de agradecimento. Pelo bom e o mau que nos solidificaram as fragilidades. Não. Eu não vi a vida a passar por mim. Desbravei-a. Fi-la minha, depois de muitas lágrimas, erros e conquistas".
Um trecho do primeiro livro com a assinatura do Projecto Cyrano.
Tão bonito :) :) promete... :)
ResponderEliminar*****
Gostava de saber escrever assim... Parabéns!
ResponderEliminarCaramba! Que bem tu escreves!
ResponderEliminarBeijinhos:)
... quero mais...
ResponderEliminarExcelente...
ResponderEliminar"Caramba"!!! consegues transformar uma nuvem negra , em algo tão suave, isto é que é arte de escrever.